17 março 2009

Há coisas que me fazem espécie

Um dela é a expressão fazer espécie.

Outra é a publicidade insultuosa. Insultuosa no que diz respeito à maneira como um produto é apresentado, e não estou a falar em usar a sexualidade / sensualidade e afins em anúncios, isso consigo tolerar até certo ponto, quando não é usado gratuitamente e até consegue ser usado de forma inteligente.

Refiro-me antes a certas palavras e expressões que são usadas para, não direi enganar, mas iludir e convencer o consumidor a comprar ou aderir determinado produto/serviço.
Fico sempre de pé atrás quando ouço palavras e expressões como:

- 20% Grátis
- Devolvemos o seu dinheiro
- Pague rapidamente e sem juros
- Produto certificado por técnicos/especialistas da área
- Garantimos a sua satisfação
- O mais barato
- A marca mais vendida
- Não encontra mais barato
- ...

Ninguém dá nada a ninguém sem saber que vai ter algo em troca, e de certeza que os senhores que precisam de publicidade para vender o seu "peixe" não fogem à regra, aliás, provavelmente a regra foi criada para estes senhores.

Gostava de ter sido educado, nos meus primeiros anos de vida, de maneira a ter noção de todas as trafulhices que existem neste mundo. Desta maneira poupava uns belos contos de reis (sim, geração de 89, quando se faziam compras com escudos, in da house) aos meus pais e tinha uma colecção de Action Man's e Lego bem menor.
É incrível a facilidade com que a publicidade entra na cabeça dos putos. Eu lembro.me bem da lavagem cerebral que sofria todos os fins-de-semana de manhã, nos intrevalo entre os MotoRatos de Marte e os PowerRangers. Como eu muitos da minha geração, e posteriormente muitos das gerações seguintes.




Uma vez, um professor meu disse-me, quando levei uma das minha habituais T-shirts "de marca", que trazer o logotipo de uma marca na T-shirt era das formas mais geniais de publicidade, uma vez que eu tinha pago muito mais do seria suposto por aquela T-shirt ter o tal logotipo/marca e ainda estava a ser usado como cartaz publicitário ambulante.
De certa maneira não liguei muito, achei que era uma pequena brincadeira para me "picar". Mas o que é certo é que isso me ficou na cabeça até hoje.
O que também é certo, é que estava certo.
Não me considero materialista, mas entrego-me a certos luxos e manias. Se há coisas que os luxos precisam é de uma certa irracionalidade. É isso que a publicidade explora.
Um luxo é algo "meta-necessário" (será que a palavra existe ?), algo que vai para além das nossas necessidades básicas, e são os luxos que a publicidade nos impinge.

O anúncio mais verdadeiro do produto ideal teria o slogan "Só porque você precisa", no entanto se a necessidade de ter um determinado produto/serviço é assim tanta, não há necessidade de haver publicidade ao mesmo, porque o mais natural é haver por parte do consumidor uma procura imediata desse mesmo produto/marca sem a publicidade.


Aqueles que ensinam/vivem a Publicidade dizem que esta não "engana" mas "mostra apenas o lado positivo do produto".
A minha mãe diz-me que não há muita diferença entre mentir e não contar a verdade.

Trabalhar em publicidade era, provavelmente, das últimas coisas que conseguiria fazer. Seria algo demasiado enganador para me deixar dormir tranquilo à noite.

TA